Fala,
meu povo! Quem chega em Miss Violence
pela primeira vez inocentemente o associa a um simples drama europeu. De fato,
o drama é um dos gêneros pelos quais essa produção grega transita, mas não se
engane, pois estamos diante de um suspense psicológico perverso!
Posso
dizer com segurança que é um dos filmes mais perturbadores que já assisti, e ele
consegue isso graças ao seu conteúdo extremamente chocante.
Miss violence é um filme grego de 2013 dirigido por Alexandros Avranas, e continua inédito no Brasil, com uma
pegada que lembra um pouco os longas metragens de Yorgos Lanthimos, que dirigiu
O Lagosta (2015) e mais recentemente
o indicado ao Oscar A favorita (2018).
Porém, aqui não há espaço para surrealismo ou metáforas, como é o caso d'O
Lagosta, mas ainda assim discute temas importantes, ainda que representados de
forma extremamente fria.
O
filme começa parecendo uma festinha familiar de domingo, na comemoração do
aniversário de 11 anos da garota Angelike. Porém,
o espectador é surpreendido quando a menina afasta-se dos parentes e comete
suicídio ao pular da varanda do apartamento. Agora, a história vai
avançando e percebemos onde estamos pisando, numa casa onde reside uma família
extremamente problemática.
A
família é composta por um casal que tem uma filha adulta mãe de
quatro crianças (incluindo a falecida Angelike), cujos pais supostamente são desconhecidos.
Quando a história vai avançando, nos sentimos como visitantes indesejados
naquela casa, e acompanhamos a rotina da família, que lida com a morte da jovem
de forma passiva, na qual todos os sentimentos de remorso e pena são inibidos.
Não estamos diante de uma simples família adepta ao patriarcado, mas sim de um
clã que esconde um segredo tenebroso.
Falar desse filme a partir de agora sem soltar spoilers é quase impossível, então decidi chutar o pau da barraca e prosseguir. Não continue lendo se não quer saber o que está por trás da máscara!
Se você deseja assistir Miss Violence, deve ficar bastante atento aos mínimos detalhes, expressos em gestos ou situações ilustrados pelos personagens. Observamos inicialmente a questão do desemprego, com o patriarca mesmo estando em idade avançada, acabando de arrumar um emprego e aparentemente mostrando dificuldades, além do silêncio mortal entre as crianças, que possuem um comportamento igualmente frio, mas marcado em parte pela inocência. Isso sem mencionar a filha adulta, que passa por situações que já vão revelando o que há debaixo dos lençóis. A partir da metade, o filme vai da água para o vinho ao expor a realidade assombrosa pela qual o espectador já imaginava desde que colocou os olhos naquela família. A expressão que resume tudo é "abuso infantil"!
O
tal patriarca foi capaz de violentar sua filha mais velha no passado, sendo o tal pai "desconhecido" das quatro crianças, sendo as três meninas e
um menino. As garotas, quando completam 11 anos de idade, passam a ser
"vendidas" por esse sujeito, sendo obrigadas a se prostituir. Como se
isso não bastasse para justificar o suicídio da garota no início do filme,
percebemos que o pai/avô chega ao cúmulo de se aproveitar ocasionalmente das
meninas, molestando-as. E sabe o que é pior ainda? O filme não se preocupa em "julgar" tudo aquilo, seja em talvez inserir alguma situação que cesse tal absurdo, ou simplesmente promover um "rape and revenge", como fazem alguns filmes estadunidenses como Doce Vingança e Aniversário Macabro. As personagens femininas sofrem muito e a atitude da família diante disso é de conformismo.
Como
já deu para perceber, esse filme é muito pesado, do tipo que não deve ser
exibido para menores de 18 anos em hipótese alguma. Dentro dessa narrativa que
tem início apostando em um aparente drama familiar, somos surpreendidos pela
mudança de tom, onde o comportamento frio dos personagens e suas atitudes
intragáveis nos deixam com dor de cabeça. O pior de tudo é que o filme não é
tão pesado visualmente falando, ainda que algumas cenas assustem pela forma
crua, com ausência de trilha sonora e levando determinado acontecimento bizarro
aparecer mera rotina daquela família. Vai por mim, as situações mais impactantes acontecem fora das câmeras, mas são indicadas pela reação das personagens. O comportamento dos personagens e a forma como as mulheres são representadas na história é o que assusta aqui!
E
se você pensa que as coisas vão melhorando, está muito enganado. O desconforto
dura até o fim, onde destaco uma cena que não mostra quase nada, mas nos diz
tudo com os olhares e gestos maliciosos dos personagens masculinos, que é de embrulhar o estômago e partir o coração. Se existe
algo aqui que me chama muito a atenção é a reflexão sobre a essência má do ser
humano, sendo representado como calculista e cruel, fazendo referência ao homem
primitivo. Esse filme mostra a dor de ser mulher em uma sociedade composta por homens que, em alguns casos, se comportam como o patriarca ou como seus "clientes". Isso assusta pela verossimilhança!
O
filme em si é ótimo, embora seja muito difícil de digerir e que essa característica seja atribuída a mera qualidade do longa-metragem . As atuações são
fantásticas, sobretudo o elenco mirim, que consegue transmitir as
situações cabulosas que passam, onde a
inocência se transforma em repulsa e medo. A direção e o roteiro também
acertam em cheio ao colocar na trama de Miss
Violence poucos diálogos, e quando há essa presença, é de uma forma
natural. Sendo assim, é preciso estar atento aos gestos e atitudes dos personagens
no decorrer da história para entender os acontecimentos que vão tomar forma. É
isso, ou o choque vai ser ainda maior quando a máscara cair!
Fonte da imagem: Gruemonkey
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Espero
ter deixado bem claro que não abri exceção para um filme de drama aqui neste quadro,
embora muitos exemplares deste gênero coloquem várias produções de horror no
chinelo, ao menos no que se trata de chocar o público. Este é um
suspense psicológico feito para plateias adultas e que estejam procurando algo
diferente, que vá além da cartilha hollywoodiana. Se não é o seu caso, mantenha
distância de Miss Violence! Não assista a este filme se você já se sentiu impactado pela história que eu contei aqui, tendo o cuidado de não mostrar imagens fortes - que apesar de serem relativamente poucas, são o suficiente para ficar na sua cabeça por dias. Se ainda
com meus spoilers você estiver com interesse em assistir ao filme, saiba que
essas informações, que entregam a espinha dorsal do filme, não diminuem a
pancada no estômago!
Fonte da imagem: Picanha Cultural
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