Olá pessoal que acompanha o Nerdspeaking! Hoje, começando mais uma série de posts - Dessa vez para falar sobre trilhas sonoras de filmes, nós vamos tentar avaliar a trilha sonora do filme vencedor do Oscar de melhor filme de 2018, “A forma da água”, do mexicano Guillermo Del Toro. Confere aí!
Você já assistiu algum filme do Guillermo Del Toro? O diretor mexicano tem ótimos filmes em sua filmografia como “O Labirinto do Fauno”, “Hellboy”, “Círculo de Fogo”, “A Colina Escarlate”, “A Espinha do Diabo”, “Cronos” e muitos outros. Sabe o que todos eles têm em comum? Uma maneira diferente de tratar o horror: uma construção de atmosfera do horror para tratar das coisas mais detestáveis da humanidade. Não é para menos que em muitos dos seus filmes a figura do “monstro” ou da “criatura” é subvertido e humanizado e, paradoxalmente, a figura do humano nos filmes de Del Toro é vilanizada - para comentar as atrocidades da humanidade. Bom, esse é um papo para um outro texto. O que vamos tentar falar hoje é Como “A forma da água” usa os sons para recordar a água? E como a sonoridade e o tom de um filme é construído através da trilha sonora?
O que eu quero falar, na verdade, é da maneira completamente diferente que o autor constrói seus filmes. Além do tratamento de personagens do diretor ser diferente de outros que trabalham o mesmo gênero, Guillermo Del Toro consegue através dos sons construir essa ambiência do horror. A sugestionabilidade dos sons, da trilha sonora e do design de som do filme “A forma da água” se diferencia muito dos outros filmes do diretor. Escute o tema do filme, a música:
A forma da água é um filme de fantasia sombria, romance, drama e aventura dirigido por Guillermo del Toro e escrito por ele e Vanessa Taylor. O filme conta uma história situada em meio aos grandes conflitos políticos e grandes transformações sociais ocorridas nos Estados Unidos, onde Elisa (Sally Hawkins), zeladora em um laboratório experimental secreto do governo, conhece e se afeiçoa a uma criatura fantástica mantida presa no local. Para elaborar um arriscado plano de fuga ela recorre a um vizinho (Richard Jenkins) e à colega de trabalho Zelda (Octavia Spencer). O diretor consegue humanizar a criatura construir um relacionamento entre a personagem principal que é muda e com a criatura, que também não fala.
A comunicação é um dos principais pontos levantados por Guillermo del Toro no filme: a comunicação improvável entre dois seres totalmente diferentes e que, em um primeiro momento, não conseguem se comunicar; e a incomunicação entre os seres humanos, a exemplo, do vilão com a sua esposa. Mas é a partir da música e da capacidade da composição de Desplat que conseguimos acessar a complexidade de sentimentos que o filme compacta em suas duas horas.
E o que seria a música senão a experiência máxima de sentir o que o personagem sente de uma maneira muito particular, subjetiva e sensorial?
O trabalho de del Toro é impressionante na construção de empatia entre os personagem e do público para com os personagem, só que a música tem um caráter central para isso. Ele consegue fazer uma exaptação da atmosfera sentimental dos personagem para sua direção, isto é, ele é capaz de fazer essa conexão entre campos diferentes assim como o compositor francês faz na dimensão sensorial-musical.
Del Toro, Taylor e Desplat |
O diretor do filme estabelece por meio de suaves movimentos de câmera uma linguagem própria do filme: a câmera nunca para, ela se movimenta como a água, com uma fluidez e leveza. Pois bem, Desplat faz a mesma coisa com a música. Ele consegue trazer a fluidez e movimentos da água através de harpas, flautas e do acordeão. Quando eu falo da sinestesia dos sons de “A forma da água”, eu me refiro a sinestesia como a capacidade de Del Toro e Alexandre Desplat para estimular um sentido que evoca imediatamente uma sensação em outra modalidade de sentido: as músicas e as notas de instrumentos (muito bem escolhidos) lembrarem bolhas que escapam do fundo do mar, por exemplo. Na música tema da protagonista (Elisa's Theme) isso ainda é mais observável:
“A forma da água” possui uma camada de sentimentos como mistério, drama, amor (romance) e o horror: essa é a composição da atmosfera do filme. E ele consegue estabelecer essa consistência a partir da música, da junção das imagens, dos movimentos com a trilha sonora: pela capacidade de atribuir sentido a coisas que não estão ligadas a outras, ou seja, neste caso, a sinestesia dos sons. O mais interessante, no entanto, é o que a pesquisadora Carla Patrícia Magalhães quando fala que “através da arte, a experiência sinestésica, pode ser visível aos outros. Ela torna-se comunicável e mistura-se ainda com uma visão pessoal de cada um que a compartilha”. A partir da minha análise, cheguei nessa conclusão, mas cada pessoa vai entender e ser estimulada sensorial (pela composição) de um modo diferente. E essa é a graça!
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