16/01/2019

Por que RIMOS das piadas éticas de THE GOOD PLACE? - Lucas Daniel


   The Good Place é uma série de comédia difundida nos States pela NBC, e no Brasil, a Netflix veicula a série que conta a história da vida pós-morte de algumas pessoas e a entrada dessas pessoas no “Lugar bom”, espécie de “céu”. O seriado fala sobre questões densas de maneira leve e hilária, relacionando questões e pensamentos filosóficos com as problemáticas de ser ser humano em um nível existencial. Mas a final, por que de rimos de piadas relacionadas com temáticas tão obscuras e existenciais? Por que uma série que comenta, mesmo que de um jeito leve, sobre tabus morais e questionamentos éticos nos faz rir? Qual a relação disso com a abordagem filosófica que a série se propõe a desenvolver?

    Uma pesquisa publicada na revista científica Psychological Science ajuda a explicar porque a comédia, mesmo quando envolve assuntos como morte ou tabus morais, pode fazer as pessoas rirem. As pessoas podem achar piadas desagradáveis engraçadas se saírem de alguma forma como benignas, sem ferir alguém ou alguma coisa, para esse estudo. As chamadas “Teorias do humor” afirmam que achamos engraçado o contraditório: a contradição e o alívio da tensão, mas, claro, os códigos morais e éticos, as regras da sociedade e os códigos culturais também devem ser levados em consideração.


   “O estímulo necessário para o riso não é uma piada, mas outra pessoa”, escreve o especialista em risadas Robert R. Provine, professor emérito da Universidade de Maryland, em um artigo na Current Directions in Psychological Science. A Cultura, a sociedade, o espaço-tempo em que se localiza a piada deve, portanto, ser levado em consideração para analisar o porquê dessas risadas. Uma das piadas que mais me chamou atenção em “The Good Place” foi a piada presente no episódio “Dilema do Bonde”, da segunda temporada (S02E06).

   Neste episódio, os personagens estão enfrentando/aprendendo com Chidi, o personagem mais problemático, indeciso e HUMANO da série, questões ligadas aos dilemas éticos, à Filosofia e à Ética Moral. O dilema do Bonde é um antigo exemplo dessas questões. Imagine esse cenário: um bonde desce dos trilhos, descontrolado. Há alguns trabalhadores na linha do bonde. Você, um espectador, percebe que esses trabalhadores vão ser mortos pelo bonde em movimento. No entanto, você se dá conta que existe uma chave por perto, você pode girá-la e isso desviará o bonde para um trilho diferente onde só um único trabalhador será morto. O que você faria? 
   O seriado se utiliza desse cenário ético para construir uma narrativa cheia de inventividade cômica. Há um arco para as piadas, existe uma construção de piadas. O que ao meu ver, do ponto de vista narrativo, estimula as risadas está ligado aos personagens, as suas personalidades e o progredir das decisões nesse contexto: o paradoxo entre as escolhas; a distinção entre as escolhas da protagonista Eleonor com Chidi; as diferenças entre as ações de um ser não-humano e sua inexistente ética “humana” com as ações da protagonista (moralmente frágil), Eleonor. Tudo isso retoma as ideias defendidas pelos estudiosos do estudo anteriormente mencionado.
   Tais cientistas criaram três critérios para explicar por que as coisas são engraçadas: a história ou o cenário tem que ser incongruente (violar algumas normas morais ou sociais), benigno, e conciliável. Em outras palavras, a piada tem que ser repugnante por violação moral e simultaneamente benigna. É o caso do dilema do bonde: um cenário em que um atitude viola normas morais (matar um pessoa), mas, simultaneamente, ser conciliável e de certo modo “benigno” (já que você está salvando outras vidas). Claro, as risadas acontecem pela causa e efeito em que a série, em sua narrativa, constrói: a diferença entre os cenários, as semelhanças, associações e distinções.

   Por exemplo, esses pesquisadores testaram suas ideias em experimentos. Em um deles, os voluntários leram duas versões de uma piada: uma descrição da empresa alimentícia Jimmy Dean usando um rabino como porta-voz de uma nova linha de produtos de carne de porco, ou Jimmy Dean contratando um fazendeiro como porta-voz. Os participantes estavam mais propensos a rir ao ler a situação que envolvia a violação moral – do rabino promover carne de porco – ao pensar que era “errado” em comparação com a outra versão da piada. Ou seja, muitas vezes, contextos com disrupção de regras são cenários propícios a risadas. 
Quer seja com frango assado, quer seja envolvendo mortes, muitas esses cenários constroem piadas que fazem com que os indivíduos de determinada cultura fiquem com dor de barriga. No entanto, o fato da série não ser realidade, ou seja, o fato dela se distanciar da realidade é uma das bases para que as piadas éticas de The Good Place façam rir. Segundo os pesquisadores, as pessoas riem quando um amigo bate no outro, porque sabem que eles não serão realmente feridos. É uma violação das normas sociais. Você não pode bater nas pessoas, principalmente em um amigo. Mas na piada, tudo bem porque não é real.

   Essa pesquisa evidencia também por que os filmes de comédia tendem a ter mais sucesso em sua cultura de origem. As formas com que essas violações podem ser benignas são distintas de cultura para cultura.


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