16/02/2018

Houston, me informe a GRAVIDADE da situação. - Mallu


   Gravidade (2013) é uma das melhores e mais bem produzidas obras de ficção científica lançada nos últimos anos. Com direção de Alfonso Cuarón e fotografia de Emmanuel Lubezki (Birdman, O Regresso), é um filme de singela beleza e realismo impressionante.



   A história se passa em órbita da Terra, com uma equipe de astronautas cuja a missão é a manutenção do telescópio Hubble. Entre eles a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) uma brilhante engenheira em sua primeira missão e o astronauta veterano Matt Kowalsky (George Clooney) em sua missão de despedida. Tudo parecia está indo muito bem, até que uma nuvem de estilhaços resultante de um satélite abatido por um míssil russo, ameaça toda missão e a sobrevivência da tripulação. O restante do filme é a Ryan e o Matt tentando não morrer pelos restos de lixo espacial que parece persegui-los obsessivamente.


   Como eu disse, o filme apresenta um realismo impressionante quanto a física da microgravidade, porém comete alguns deslizes, que, se usados ou não como expressão artística podem confundir o telespectador que não está em órbita.

   A manutenção do telescópio Hubble feito pela Ryan no filme, originalmente, era realizada pelos ônibus espaciais, antes da aposentadoria em 2011. No geral essas missões servem para repor peças e consertar a órbita do satélite. O Hubble está situado em uma órbita baixa da Terra, ou seja, a 570 km de altitude, o que é bastante longe da estação internacional espacial, na qual os personagens vão buscar abrigo dos destroços.


    Aliás, no filme parece que satélites, a estação espacial e o Hubble estão todos na mesma órbita, mesma direção e muito juntos uns dos outros. Isso sem dúvida seria um suicídio econômico e de performance desses equipamentos. Por exemplo, satélites de órbita baixa ficam, geralmente, a 20.000km de altitude (O sistema de GPS, por exemplo, fica a cerca de 40.000km). Longe o suficiente para não causar um estrago daqueles. Além do mais, lixo espacial e pequenos meteorito são comuns na órbita da Estação Internacional Espacial (a 400km). Satélites de espionagem desativados ou sem combustível, pedaços de módulos de foguetes lançados, enfim, especialistas dizem que chega a quase 750 mil pedaços de sucata maiores que um centímetro. Um dos principais problemas é a Síndrome de Kettler, uma reação em cadeia de colisões, e que através dessas colisões, são criadas outras novas partículas que se chocam ainda mais criando outras, e assim sucessivamente. Exatamente o que ocorre no filme, só que de forma convenientemente acelerada.


   Além do fato de que a Sandra Bullock jamais iria conseguir colocar um traje espacial sozinha, pressurizar e despressurizar um módulo tão rápido e do seu cabelo não ficar arrumado o tempo todo. Há uma cena particularmente inquietante; Após a Estação Espacial ser abatida, os dois astronautas são jogados para longe, a Ryan fica presa pelo pé pelas cordas de um paraquedas e Matt tenta se segurar em uma delas para não ser empurrado para longe em direção ao espaço mais exterior. Ao fazer isso ele agarra em uma corda e Ryan agarra a outra ponta da corda tentando impedir que ele se perca para sempre. 

   Tudo o que Ryan precisava fazer era puxar levemente a corda em sua direção para trazer Matt de volta, já que, no espaço não há forças atuando sobre os corpos – e em microgravidade as forças são mínimas. Mas, ela não faz isso e Matt parece está sendo sugado por uma força fantasma na direção contrária sem nenhum motivo aparente. O resultado é Matt se soltando da corda para não levar a simpática Ryan junto com ele em uma morte fria e silenciosa pelo espaço profundo. A cena é muito bonita e emocionante, mas não faz o mínimo de sentido, fisicamente falando.



   Interpretada metaforicamente, a cena parece ser a chave para a evolução da engenheira Ryan, que após a morte da filha entrou em um estado de covardia diante da realidade. Deixar o astronauta Matt ir, foi não só doloroso, como também o primeiro ato de coragem da personagem no filme. Gravidade é um filme sobre espaço, astronautas e suspense, mas também, é sobre como precisamos enfrentar as adversidades, tomar uma atitude e de que como é difícil fazer isso. Com a câmera em constante movimento, não há esquerda, direita, cima ou baixo, há apenas a luta constante contra a inércia. O horror de ver a Terra – nossa casa e porto seguro – tão perto e ao mesmo tempo tão longe do alcance dos astronautas só tornar o filme ainda mais intenso.


   A impressão que eu tive ao assistir é a de que todos os erros físicos foram propositais para contar a história. Até porque toda ficção científica termina sendo sempre sobre humanos sendo humanos em situações extraordinárias. Gravidade cumpre esse papel de forma magnífica.  O NerdSpeaking Indica.



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