31/08/2016

Ben-Hur; Surpresa ou Decepção? - João F.


   Fala, meu povo! Esse ano provou ser cheio de surpresas, que ainda não pararam por aí. O lançamento da nova versão de Ben-Hur prova ser uma delas, tendo a missão de conseguir um novo público, sem deixar de respeitar o antigo. Quanto a isso, há muito o que se discutir.



 Para quem não conhece a história clássica do personagem, aqui vai uma breve sinopse: Em Jerusalém, algum tempo antes da crucificação de Cristo, vive o nobre judeu Judah Ben-Hur (Jack Huston), que cresceu junto com seu irmão adotivo Messala (Toby Kebbel), que foi acolhido por sua família. Os dois possuem ideais bem diferentes – enquanto Judah passa a ajudar os judeus mais reprimidos pela ocupação do Império Romano, Messala passa a lutar ao lado do exército de Pôncio Pilatos, seguindo fielmente suas ordens – o que provoca um incidente do qual o nobre judeu é acusado, sendo em seguida traído pelo seu irmão e preso injustamente. Após alguns anos, ele quer vingança, e parece que só há um meio de fazer isso com honra: desafiando seu antigo amigo na  corrida de bigas.


  É bom lembrar que não se trata necessariamente de um remake da versão de 1959 (a mais famosa), mas sim de uma nova adaptação cinematográfica do romance Ben-Hur: A Tale of the Christ, escrito por Lew Wallace em 1880. Mesmo não sendo uma refilmagem do filme estrelado por Charlton Heston, não há como evitar debates entre os dois públicos. Não é nossa intenção nesta review fazer comparações, tendo em vista que é uma diferença de quase 60 anos. Uma coisa é certa: a versão de 2016 tem mais oportunidades para abusar da criatividade, em uma época que possibilita maiores avanços tecnológicos e uma exploração nas histórias centrais e paralelas. Ao menos, em tese, a coisa deveria acontecer dessa maneira.
  Muitos se questionaram a respeito da escolha do diretor – Timur Bekmambetov (Wanted, Abraham Lincoln: Vampire Hunter) – para conduzir a nova adaptação da história. Ele é um cara que teve seus altos e baixos no mundo cinematográfico, como todo cineasta. Isso é bem refletido em Ben-Hur, com um começo um tanto entediante, mas que recarrega as energias aos poucos. Arcos como o momento da decisão de Mesalla em simplesmente partir para servir o Império Romano poderiam ser mais cuidadosos na questão da duração, terminando como uma cena repentina. O efeito em 3D também não é grande coisa para a produção, tendo poucas cenas para fazer o preço de um filme com essa disponibilidade valer à pena, fazendo determinada cena parecer ser criada apenas para relembrar que é um lançamento em 3D, ficando de certa forma desnecessário. Os efeitos especiais não chegam a ser um marco, mas tem seus momentos aplaudíveis (A cena da corrida de bigas foi simplesmente excepcional).


  As atuações não deixam nada a desejar, acertando em cheio a escalação dos atores principais – Jack Huston, Toby Kebbel e Morgan Freeman. Apesar de Huston ser novo no papel de protagonista principal, ele revela aos poucos ter o espírito necessário para conduzir bem o filme. Freeman repete o papel de mentor do protagonista (e muito bem feito), e quem se destaca mesmo é Toby Kebbel e seu Messala. O ator parece ter o carisma e uma postura característica para a interpretação de um personagem que mostra ter força, liderança e raiva. É perceptível que ele é o vilão do filme, e Kebbel demonstra que sabe dar conta do papel de um antagonista, tanto é que ele foi uma das poucas surpresas do reboot do Quarteto Fantástico (na pele de Victor Von Doom, não como o “Destino”), lançado no ano passado.


  Com um elenco que chama muita atenção por atuações fortes, não podíamos deixar de fora o Jesus Cristo, interpretado pelo ator brasileiro Rodrigo Santoro. Um dos papeis mais desafiadores para o ator – que foi visto recentemente na novela Velho Chico, da Rede Globo – o Jesus nesse filme tem um papel secundário, contudo mais aproveitador do que na versão antiga, deixando uma mensagem de “perdão” mais clara para o espectador.


 Mesmo assim, existe um pequeno problema que pode fazer o tom do filme ser confuso em determinados momentos. Acontece que a releitura do livro de Wallace terminou ainda sem saber exatamente onde é seu lugar. Como assim? O filme começa querendo passar uma determinada mensagem, sendo trocada por outra que ensina os valores de uma forma repentina, incomodando quem esperava por algo mais claro e fixo do começo ao fim.
  Portanto, antes de assistir o filme, vale lembrar que ele tem lá seus defeitos – e não são poucos. Atuações funcionam bem, assim como a química entre os personagens – especialmente a rivalidade entre dois homens criados como irmãos, mas seus ideais diferentes os tornaram inimigos. O verdadeiro pecado do filme foi não ter uma ideia fixa de onde se encaixar: trata-se de um filme épico, de última hora adotando uma mensagem bíblica como pretexto para um final feliz. Por que não deixar isso claro desde o início, então? No fim Ben-Hur, apesar de ter momentos empolgantes, termina sendo apenas mais uma adaptação entre várias. E enquanto refilmagens, reboots e releituras trouxerem mais lucro para as produtoras, mais versões serão lançadas. Daqui a mais 60 anos, quem sabe?!


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