Fala, meu povo! Esse ano
provou ser cheio de surpresas, que ainda não pararam por aí. O lançamento da
nova versão de Ben-Hur prova ser uma
delas, tendo a missão de conseguir um novo público, sem deixar de respeitar o
antigo. Quanto a isso, há muito o que se discutir.
Para quem não conhece a história clássica do
personagem, aqui vai uma breve sinopse: Em Jerusalém, algum tempo antes da
crucificação de Cristo, vive o nobre judeu Judah Ben-Hur (Jack Huston), que
cresceu junto com seu irmão adotivo Messala (Toby Kebbel), que foi acolhido por
sua família. Os dois possuem ideais bem diferentes – enquanto Judah passa a
ajudar os judeus mais reprimidos pela ocupação do Império Romano, Messala passa
a lutar ao lado do exército de Pôncio Pilatos, seguindo fielmente suas ordens –
o que provoca um incidente do qual o nobre judeu é acusado, sendo em seguida
traído pelo seu irmão e preso injustamente. Após alguns anos, ele quer
vingança, e parece que só há um meio de fazer isso com honra: desafiando seu
antigo amigo na corrida de bigas.
É bom lembrar que não se trata
necessariamente de um remake da
versão de 1959 (a mais famosa), mas sim de uma nova adaptação cinematográfica
do romance Ben-Hur: A Tale of the Christ,
escrito por Lew Wallace em 1880. Mesmo não sendo uma refilmagem do filme
estrelado por Charlton Heston, não há como evitar debates entre os dois
públicos. Não é nossa intenção nesta review fazer comparações, tendo em vista
que é uma diferença de quase 60 anos. Uma coisa é certa: a versão de 2016 tem
mais oportunidades para abusar da criatividade, em uma época que possibilita
maiores avanços tecnológicos e uma exploração nas histórias centrais e
paralelas. Ao menos, em tese, a coisa deveria acontecer dessa maneira.
Muitos se questionaram a respeito da escolha
do diretor – Timur Bekmambetov (Wanted,
Abraham Lincoln: Vampire Hunter) – para conduzir a nova adaptação da
história. Ele é um cara que teve seus altos e baixos no mundo cinematográfico,
como todo cineasta. Isso é bem refletido em Ben-Hur,
com um começo um tanto entediante, mas que recarrega as energias aos poucos.
Arcos como o momento da decisão de Mesalla em simplesmente partir para servir o
Império Romano poderiam ser mais cuidadosos na questão da duração, terminando
como uma cena repentina. O efeito em 3D também não é grande coisa para a
produção, tendo poucas cenas para fazer o preço de um filme com essa
disponibilidade valer à pena, fazendo determinada cena parecer ser criada
apenas para relembrar que é um lançamento em 3D, ficando de certa forma
desnecessário. Os efeitos especiais não chegam a ser um marco, mas tem seus
momentos aplaudíveis (A cena da corrida de bigas foi simplesmente excepcional).
As atuações não deixam nada a desejar,
acertando em cheio a escalação dos atores principais – Jack Huston, Toby Kebbel
e Morgan Freeman. Apesar de Huston ser novo no papel de protagonista principal,
ele revela aos poucos ter o espírito necessário para conduzir bem o filme.
Freeman repete o papel de mentor do protagonista (e muito bem feito), e quem se
destaca mesmo é Toby Kebbel e seu Messala. O ator parece ter o carisma e uma
postura característica para a interpretação de um personagem que mostra ter
força, liderança e raiva. É perceptível que ele é o vilão do filme, e Kebbel
demonstra que sabe dar conta do papel de um antagonista, tanto é que ele foi
uma das poucas surpresas do reboot do Quarteto Fantástico (na pele de Victor
Von Doom, não como o “Destino”), lançado no ano passado.
Com um elenco que chama muita atenção por
atuações fortes, não podíamos deixar de fora o Jesus Cristo, interpretado pelo
ator brasileiro Rodrigo Santoro. Um dos papeis mais desafiadores para o ator –
que foi visto recentemente na novela Velho
Chico, da Rede Globo – o Jesus nesse filme tem um papel secundário, contudo
mais aproveitador do que na versão antiga, deixando uma mensagem de “perdão”
mais clara para o espectador.
Mesmo assim, existe um pequeno problema que
pode fazer o tom do filme ser confuso em determinados momentos. Acontece que a
releitura do livro de Wallace terminou ainda sem saber exatamente onde é seu
lugar. Como assim? O filme começa querendo passar uma determinada mensagem, sendo
trocada por outra que ensina os valores de uma forma repentina, incomodando
quem esperava por algo mais claro e fixo do começo ao fim.
Portanto, antes de assistir o filme, vale
lembrar que ele tem lá seus defeitos – e não são poucos. Atuações funcionam
bem, assim como a química entre os personagens – especialmente a rivalidade
entre dois homens criados como irmãos, mas seus ideais diferentes os tornaram
inimigos. O verdadeiro pecado do filme foi não ter uma ideia fixa de onde se
encaixar: trata-se de um filme épico, de última hora adotando uma mensagem
bíblica como pretexto para um final feliz. Por que não deixar isso claro desde
o início, então? No fim Ben-Hur,
apesar de ter momentos empolgantes, termina sendo apenas mais uma adaptação
entre várias. E enquanto refilmagens, reboots
e releituras trouxerem mais lucro para as produtoras, mais versões serão
lançadas. Daqui a mais 60 anos, quem sabe?!
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