22/07/2019

crítica | DIVINO AMOR: O trailer incrível de um filme comum. - Joe


   Divino Amor mostra demais em sua campanha de divulgação, e erra ao sugerir ser uma ficção distópica que também é drama, quando na verdade é um drama, que ensaia uma ficção distópica. 

CUIDADO! Spoilers.

   Divino Amor - a tão esperada ficção científica/drama do Gabriel Mascaro, cuja trama traz Joana (Dira Paes) como uma escrivã de cartório super devotada a sua religião que faz de tudo para impedir que casais se divorciem, está aos poucos se tornando a minha maior decepção do ano quando se tratando de cinema nacional. O problema do filme é, na verdade, um problema muito comum em se tratando de ficções científicas, ou filmes com projetos ousados demais - especialmente quando investem pesado em divulgação e propaganda (o que é o caso de 'Divino Amor'): Funcionar muito bem como trailer, mas ser um filme simplório e cansado.

Gabriel Mascaro, em produção de 'Divino Amor' (2019).


   Gabriel Mascaro vem de um grande acerto, com (o espetacular!) 'Boi Neon', numa trama densa e muito bem colocada que o trouxe aos holofotes, deixando a vinda de Divino Amor muito mais facilitada. Mas, quando falamos de cinema brasileiro, é preciso deixar aqui um adendo para o que vêm acontecendo em nosso cenário, num âmbito - sobretudo - politicamente polarizado. Está claro que estamos em meio à um conflito de ideias e ideologias, e esse conflito transcende o mundo real e como sabemos, 'a arte imita a vida'. Então o novo filme do Gabriel, 'Divino Amor', traz consigo uma discussão crítica e política muito interessante, ao transformar a situação atual do conservadorismo brasileiro numa parábola distópica, que escancara a histeria hipócrita da religião.


Boi Neon, o aclamado filme do Gabriel Mascaro (2015)

   Perceba que a discussão em si é incrível, e cheia de pontos a serem explorados e destacados. Esse é o cartão postal do filme, apresentado em seu magnífico trailer, cheio de cores, sons e luzes, que nos atiça a curiosidade e a vontade de ver a peça final - o filme em si... O que é  uma pena!  Ao conversar com algumas pessoas que também assistiram ao filme, percebo um sentimento geral de que o trailer acaba por 'mostrar demais' da história, e por tentar tão fortemente vender sua ideia, acaba dando tudo o que tem de bom em pouco mais de 2 minutos.


   Toda a luz, todo o brilho, o erotismo e o neon vão esmaecendo lentamente no decorrer do filme, tirando o que parecia ser sua principal marca, que era aquela trama brilhosa e noturna, confundindo aqueles que foram tragados ali pelo visual futurista apresentado no trailer. Aliás, essa talvez seja a maior decepção em Divino Amor: Constantemente, parece que o público foi iludido por uma trama comum de drama, que pouco apresenta a tal distopia, ou seu futurismo. Durante todos os 101 minutos de filme a mesma frase martelava em minha cabeça: Um filme distópico, cuja distopia é descartável.


   É claro que o filme não é só erros e defeitos. Talvez o que salve o filme e nos mantenha em nossas cadeiras ainda com certo interesse em sua trama é a atuação incrível de Dira Paes, que consegue se transformar nessa personagem conservadora, um tanto ingênua, e ainda transferir suas frustrações e seu fanatismo para nós, por mais que nos pareçam insanos. Talvez o filme funcione muito melhor como um drama, do que como ficção...


   ... E mesmo assim, tudo isso é posto a perder em seus últimos minutos, quando o filme parece querer terminar logo, e apressa a velocidade em 200%! O filme acaba num susto, rápida e subitamente, num fechamento tão estranho e desproporcional, que nem parece ser o fim. Parece surreal demais, e raso demais, para um filme que se levou tão a sério e tão criticamente por mais de uma hora. É triste que todo aquele tortuoso desenvolvimento acabe de forma tão simplória, parecendo aquelas frases de Facebook que dizem "Como seria Jesus se viesse hoje à Terra?". E encerra-se a sessão. Em meio a risos abafados e olhos confusos. Acaba rápida e subitamente, num fechamento tão estranho e desproporcional, que nem parece ser o fim.


   Divino Amor peca por mostrar demais em sua campanha de divulgação, e erra ao sugerir ser uma ficção distópica que também é drama, quando na verdade é um drama, que ensaia uma ficção distópica. Apesar de tudo gosto de ser otimista, e acredito que a audácia do filme se nomear uma ficção abre portas em nosso cinema nacional, e nos permite explorar novos universos, novas histórias e novas modalidades nas telonas.



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