E- commerce é um fenômeno ao redor do mundo entre grandes, médias e pequenas empresas. A comodidade da internet (marketplace, serviços de streaming, algoritmos) trouxe para os consumidores um novo hábito: Não precisar sair de casa e deixar a cargo das empresas a decisão de quais produtos consumir. Claro, eu digo isso como usuária do Netflix, Ifood e Spotify. A ideia de sair de casa para comprar algo está se tornando uma realidade cada vez mais distante.
Os diferentes setores estão se readaptando(ou sucumbindo) a esses novos hábitos. O número de livrarias e papelarias no Brasil encolheu 29% em 10 anos, nos EUA grandes varejistas fecharam mais de 5.000 lojas físicas em 2017 e aqui no Brasil a Saraiva e Livraria Cultura estão seguindo pelo mesmo caminho... E não preciso nem falar do fracasso das vídeo-locadoras depois da chegada das TVs a cabo e logo em seguida o streaming. O aumento gradual de acesso a internet fez o comércio eletrônico crescer 12% em 2016, segundo a ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico ABComm). E a tendência é aumentar.
Os diferentes setores estão se readaptando
Mas falando bem sério agora. Nossa preguiça é quase sempre maior que nossa consciência, certo? Claro que já me passou pela cabeça “Será que esse boom de apps de delivery não tem a ver com a precarização do trabalho de carteira assinada? Será que essas empresas não estão se aproveitando disso?” Dois segundos depois, estou pedindo uma pizza no Ifood. Conveniência é tudo para nossa geração. E os dados dos clientes são ouro para as empresas. Eu já falei disso por aqui, mas dessa vez vamos fazer um mergulho profundo.
Existem três formas de se ganhar dinheiro com E-commerce: 1º Sendo uma empresa física que vende produtos online; 2º Sendo uma intermediária onde empresas físicas catalogam seus produtos e ganhar uma porcentagem em cima disso (marketplace); 3º Sendo uma empresa de suporte online que oferece espaço e processamento das informações dos sites tanto de marketplace quanto de empresas físicas.
Os exemplos mais famosos de marketplace por aqui são a OLX e o Mercado Livre (Aliexpress é um bom exemplo de marketplace de sucesso.
Entretanto, todas essas plataformas precisam de armazenamento de banco de dados, serviços de nuvem e um excelente suporte de processamento de informações. E é aí que entra a terceira forma de ganhar dinheiro com e-commerce. O campeão de vendas online do Brasil é Netshoes, com mais de 20% do mercado, atrás dela aparecem nomes como Americanas, Walmart, Aliexpress, Submarino e a Amazon com míseros 1,7% da fatia do mercado de varejo online. A Amazon ainda não possui loja física no Brasil e não é tão conhecida por aqui, então, isso já era esperado. Mas sabe quem está com um mercado consolidado no Brasil? A Netflix, Ifood e o Spotify. E todos eles usam o serviço de web da Amazon (AWS).
A Amazon começou em 94 na garagem do Jeff Bezos - ele mesmo! o Dono da Origin Blue - ele vendia livros por catálogo online. Ele conseguia manter um catálogo imenso de livros por causa de parcerias com atacadistas e distribuidoras. Então, a Amazon sempre tinha o livro que você queria e o entregava o mais rápido possível. O site da Amazon no anos 90 era bem estruturado e intuitivo, motivos que seguraram as vendas por um ano e fizeram a Amazon continuar crescendo. Logo, a empresa começou a incomodar as grandes livrarias dos Estados Unidos, como a Barnes & Noble. No primeiro mês de funcionamento, a Amazon já recebeu pedidos de todos os 50 estados dos EUA, além de 45 países ao redor do globo. Em 97, ela fez a oferta pública de ações já mostrando números bem impressionantes. Naquele ano, já eram mais de 2,5 milhões de livros no catálogo e 148 milhões de dólares em vendas. Depois dos livros vieram: CDs e DVDs, eletrônicos, brinquedos entre outros produtos. Em 2000, a Amazon se torna oficialmente um Marketplace vendendo o produto de terceiros e ganhando uma porcentagem da venda. Em 2005, o serviço de streaming Amazon Prime é lançado. Em março de 2006, começou a funcionar publicamente o Amazon Web Services, ou AWS, que era quase uma empresa separada para armazenamento e hospedagem na nuvem. A Amazon é responsável por 49% do mercado de e-commerce nos EUA - a nível de comparação o segundo lugar ocupado pelo Ebay tem apenas 6,6% de fatia do mercado. Ela ultrapassa o Wallmart sem grandes dificuldades no quesito varejo e seu serviço de web tem clientes como o Pentágono, Nasa, Comcast, Mcdonald’s, National Geographic, Samsung Shell, enfim a lista continua infinitamente e se espalha por setores como: Engenharia espacial, indústrias petrolíferas, desenvolvedores de software e inteligência artificial, serviço de streaming, empresas alimentícias, universidades e órgãos governamentais.
Vamos recapitular. Lembra das três formas de ganhar dinheiro com e-commerce que citei anteriormente? A Amazon conseguiu ocupar todos os itens daquela lista em 24 anos de existência! A empresa vale 1 trilhão de dólares atualmente. O mais curioso é que a palavra monopólio não é de forma alguma associada a esta empresa. Monopólio é quando uma empresa cresce tanto - agindo igual ao um pacman - controlando o mercado e os preços e acaba eliminando a concorrência. Sem competição ou ameaças a empresa dominante simplesmente não precisa obedecer as regras do jogo do mercado e fica livre para fazer o que quer.
A Amazon é o pacman das empresas. Ela não se importa de perder dinheiro para ganhar uma fatia do mercado que quer conquistar. Ela começa incentivando as pequenas e médias empresas a catalogar seus produtos no site, e como tem acesso aos dados das empresas, ela pode optar por comprar os produtos direto do fornecedor e vender bem mais barato para o consumidor, fazendo a empresa perder dinheiro e ficar vulnerável por uma oferta de compra feita pela própria Amazon. É o que está acontecendo com as livrarias físicas nos EUA. Apesar dos tentáculos da Amazon não pararem de crescer sobre serviços básicos, eletrônicos livros e afins, isso nem é o mais lucrativo para a ela. O AWS é onde realmente está o ouro da empresa. Só no ano passada o AWS faturou 17,5 bilhões só com cibersegurança.
A Amazon é tão líder em computação da nuvem que todas as outras empresas parecem depender dela para estarem online. O mercado mundial de infraestrutura como serviço (IaaS) cresceu 29,5% em 2017, totalizando US $ 23,5 bilhões, acima dos US $ 18,2 bilhões de 2016, segundo a Gartner, Inc. A Amazon foi a fornecedora número 1 do mercado de IaaS em 2017, seguida pela Microsoft , Alibaba, Google e IBM. Ela conseguiu centralizar todos as necessidades de empresas e consumidores num só lugar. Está conseguindo ter controle sobre todos os dados que importam. Ela sabe quem você é, o que você compra e vende diretamente para você. Os anunciantes precisam dos dados, vendedores dos clientes, empresas precisam de servidores e a Amazon tem tudo isso.
A falta de regulação governamental sobre essas companhias é de uma incompetência impressionante. As leis antitruste americanas datam de 1890 e simplesmente não conseguem enquadrar a Amazon em crime de monopólio - assim como não conseguem realizar sanções com Facebook, Twitter, Google... Mas enfim! Isso é assunto para outro texto. Elas entram em países não-reguladores como o Brasil, com carta branca para explorar o mercado consumidor daqui. Eu acredito no perigo e na irresponsabilidade de permitir que companhias como a Amazon concentrem tantos dados assim. Entregamos a faca e queijo nas mãos dessas empresas sem perceber. E chegamos a um patamar em que se a Amazon puxar o plug da tomada, não sobra absolutamente nada.
Espalhe a ideia, comente com os amigos! Compartilhe o que é bom!
Twitter: @oNerdSpeaking
Instagram: NerdSpeaking
SoundCloud: Nerd-Speaking
Facebook: NerdSpeaking
E-mail: nerdspeaking@gmail.com
Para fazer esse texto eu tive ajuda do documentário Freenet
e do episódio ‘Amazon’ da série Patriot Act da Netflix.
Referências:
https://computerworld.com.br/2018/09/12/como-a-netflix-concluiu-uma-migracao-historica-para-nuvem-aws/
x
https://computerworld.com.br/2018/11/27/amazon-distribui-estacoes-terrestres-para-gerenciar-satelites-em-cloud/
x
https://www.ecommercebrasil.com.br/artigos/12-dados-que-comprovam-o-crescimento-do-e-commerce-no-brasil/
x
https://www.forbes.com/sites/andriacheng/2018/11/14/microsoft-nielsen-join-forces-to-make-personalized-data-a-closer-reality-to-the-cpg-industry/#39b363896dda
x
https://techcrunch.com/2018/07/13/amazons-share-of-the-us-e-commerce-market-is-now-49-or-5-of-all-retail-spend/
x
https://www.disruptiveadvertising.com/ppc/ecommerce/2018-ecommerce-statistics/
x
https://aws.amazon.com/pt/solutions/case-studies/
x
https://aws.amazon.com/pt/partners/success/verizon/
x
https://www.youtube.com/watch?v=7G7DPNXPJJQ
x
https://www.gartner.com/newsroom/id/3884500
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que você acha? Comenta aí!