Se você nunca ouviu falar desse termo, talvez você seja jovem demais ou nerd de menos. A palavra apareceu pela primeira por volta dos anos 80, no livro Neuromancer do autor William Gibson. Apesar da narrativa confusa, Neuromancer foi um divisor de águas para ficção cientifica, cunhando as palavras como: ciberespaço, cibernética, cibercultura, ciberativismo, etc. Porém, mais importante que a nomenclatura, Gibson imaginou realidades virtuais, ciborgues e muitas outras alegorias que a ficção se apropriou depois.
Cyberpunk está ligado a narrativas de realidades com alta tecnologia e baixa qualidade de vida. Sociedades regidas por ditaturas que usam aparatos tecnológicos como forma de domínio e opressão também são comuns no cyberpunk. Muitos o consideram um movimento político, uma forma mais realista de enxergar a evolução cientifica e tecnológica, que em muitas, obras é ‘fetichizado’ e romantizado. O anarquismo e contra poder da cultura punk aqui são incorporados pelas minorias, que se utilizam da tecnologia como meio para obter o controle de suas vidas de volta. Se você quiser se aprofundar mais nesse estilo revolucionário, aqui vai a lista do Nerdspeaking das melhores obras desse gênero.
AKIRA
Akira é uma animação japonesa de 1988, criado por Katsuhiro Otomo e é considerada um clássico do cyberpunk. Um anime majoritariamente político situado num cenário com traumas dos ataques nucleares de Hiroshima e Nagasaki (1945). Kaneda é o líder de uma gangue punk de motoqueiros que vive na Neo-Tóquio(Uma nova cidade de Tóquio reconstruída a partir dos escombros da terceira guerra mundial iniciada, supostamente, por causa do descontrole psíquicos de uma criança com poderes gigantescos). Após um conflito com uma gangue inimiga, seu amigo Tetsuo, se depara com uma criança misteriosa e estranha. Os conflitos começam quando agentes do exército levam Tetsuo e a criança para uma base deixando o grupo confuso e motivado a resolver esse mistério. O trauma de um futuro atômico apocalíptico permeia toda a trama, gurus messiânicos, governos corruptos e problemas sociais se misturam num caldeirão de hologramas, braços mecânicos e armas poderosas. O mangá originalmente publicado de 1982 a 1990 tem uma narrativa diferente da animação, entretanto, não muda a qualidade da adaptação.
Blade Runner – O Caçador de Androides
Blade Runner é uma adaptação do livro Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? do autor Philip k. Dick. A adaptação cinematográfica manteve elementos centrais do livro, mas não a história. O filme foi lançado em 1986 como uma mistura do gênero policial e de ficção cientifica na Los Angeles de 2019. A empresa Tyrell conseguiu realizar o feito de criar seres biológicos semelhante a humanos, os chamados ‘replicantes’. Esses seres servem como escravos modernos, sendo designados a tarefas indesejáveis ou perigosas, principalmente nas colônias humanas fora do planeta. Após uma revolta e fuga de replicantes do tipo Nexus 6 de uma das colônias, o uso de replicantes acaba sendo proibido no planeta terra fazendo com que eles sejam caçados e mortos.
O policial aposentado Deckard, é chamado para realizar a tarefa de prender e eliminar um grupo de replicantes, que buscam estender a data de vida útil para mais que os 4 anos programados. A trama fica ainda mais interessante após o envolvimento amoroso entre Deckard e a replicante Rachel. A atmosfera carregada de Blade Runner nos transporta para um mundo onde o capitalismo voraz consumiu o ecossistema e desregulou o clima do planeta. A superpopulação dos centros urbanos, faz a qualidade de vida decair e as relações humanas perderem o sentido. É um filme bastante pessimista e solitário. As cores, as roupas dos personagens, os ambientes e objetos, enfim, tudo passa uma mensagem e te sugam para dentro daquela realidade. A impressão que dá, é a de que Blade Runner é o retrato de um grande funeral e de que estamos presenciando os últimos suspiros da raça humana na terra. Vale a pena também assistir ao filme sequência barra homenagem ‘Blade runner 2049’, que expande ainda mais esse universo sombrio de Philip K. Dick.
Total Recall
Sem dúvida a sugestão mais estranha da nossa lista. Lançado em 1990 é ainda hoje considerado um filme inusitado de sci-fi, com suas reviravoltas e estranhos elementos de efeitos especiais, serve de inspiração para muitos diretores de ficção. Estrelado por Arnold Schwarzenegger, o filme é uma adaptação do conto Podemos Recordar para Você, por um Preço Razoável do autor Philip K. Dick(olha ele de novo). O filme conta a história de Douglas Quaid, um trabalhador civil que tem pesadelos recorrentes de uma viagem a marte. O planeta havia sido colonizado com o propósito de extração minérios. Insatisfeito, Quaid vai até a empresa Rekall, que realiza transplantes de memória simulando férias e passeios de vários tipos, inclusive em Marte. Mas, algo sai errado. Douglas perde a memória e passa a ser perseguido por assassinos e sua mulher Lori. Mais tarde, ele descobre que na verdade se chama Hauser e é um agente da inteligência marciana. Apesar da atuação de Schwarzenegger não ser das melhores e as cenas de lutam lembrarem muito as do antigo Robcop(deve ser porque o diretor é o mesmo) a adaptação é interessante, dinâmica e engraçada. Dou uma ênfase na ousadia de mistura de mutantes cronembergs, telepatas e alienígenas. O filme teve uma releitura em 2012, estrelado pelo Colin Farrell, porém só recomendo a nível de curiosidade (o filme em si não é bom).
Matrix
É um dos filmes mais difíceis de se resumir de forma concisa. Um dos símbolos da estética cyberpunk no cinema. Lançado em 1999, estrelado por Keanu Reeves e dirigido pelos irmãos Wachowski. Matrix já foi destrinchado várias e várias vezes em teorias que tentaram explorar suas camadas. Mas, antes de ‘pagar pau’ para a obra em si, vou recomendar ao leitor que assista Animatrix. O anime, lançado um ano antes de Matrix, é uma coleção de 9 episódios que nos introduzem na realidade simbiótica entre humanos e maquinas. Além de preencher muitas lacunas do filme, os curtas foram dirigidos por diferentes artistas: Shinichiro Watanabe, Yoshiaki Kawajiri, Koji Morimoto, Peter Chung, Mahiro Maeda, Takeshi Koike, Andrew R. Jones. A genialidade dos Irmãos Wachowski permeia todo o roteiro de Animatrix vale a pena dá uma olhada. Mas voltando...
Matrix retrata um futuro próximo, onde Thomas Anderson (Keanu Reeves) é o hacker Neo que mora num pequeno apartamento e está insatisfeito com sua vida por causa de pesadelos recorrentes de que está preso por cabos contra sua vontade. Após ser contatado por Morfeu(Laurence Fishburne) e Trinitty (Carrie-Anne Moss) começa a se questionar sobre sua realidade. No encontro com Morfeu, Neo descobre que é escravo da Matrix – um sistema de inteligência artificial que utiliza humanos como fonte de energia e cria mundos virtuais para mantê-los controlados.
Sem dúvida um filme que abusa das referências históricas, literárias e mais. Apesar, de nenhum dessas ajudar a compreender o que é Matrix em sua totalidade. Nas palavras Henry Jenkins, “Matrix é uma narrativa transmidia” o que significa que a história foi fragmentada entre a trilogia de filmes, o anime e o jogo Enter the Matrix. Mesmo assim o primeiro filme é um marco no cyberpunk e da ficção cientifica no cinema.
Ghost In the Shell
Na minha opinião a sugestão mais filosófica e desafiadora da lista. criado em mangá pelo japonês Shirow Masamune em 1989, Ghost in the Shell narra as missões da Comissão Nacional de Segurança Pública, divisão do governo japonês no futuro que lida especialmente com crimes tecnológicos. Conhecida mais como Setor 9, a equipe chefiada pelo carrancudo Daisuke Aramaki e liderada pela Major Motoko Kusanagi enfrenta diariamente as transgressões no ciberespaço surgidas com o avanço da tecnologia. A serie de animes é tão recomendável quanto o filme de 1995. O futuro de 2029 possui uma tecnologia cibernética que ultrapassa os limites até do próprio corpo humano. Cérebros cibernéticos e implantes neuronais são tão uteis e comuns quanto smartphones dos dias atuais. A fusão de homem e máquina, explorada exaustivamente, tanto no filme quanto no anime é um prato cheio para os fãs de cyberpunk.
No filme o problema parece expandir ainda mais a discussão, apresentando o vilão Mestre dos fantoches, hacker de cérebros cibernéticos, inutilmente perseguido pelo Kusanagi(cujo o corpo completamente artificial protege seu cérebro orgânico). Com sacadas filosóficas muito interessantes a trama parece ser uma versão moderna do mito do Barco de Teseo, discutido ao longo dos séculos a partir da seguinte pergunta: Se o barco de Teseo for trocando de peças ao longo da viagem, quando este chegar ao destino ainda será o mesmo? Motoko trocou tanto as partes orgânicas do seu corpo (feito pela empresa Megatech) que agora já não reconhece mais a certeza da sua própria humanidade. É sem dúvida uma obra para ser debatida. O filme lançado em 2017, estrelado pela Scarlet Johansson, é um colírio de efeito visuais, entretanto, é tão vazio que enraivece quem assistiu a animação. Com o enredo alterado o filme perde muito da discussão proposta pela obra original. Mas vale a pena conferir todos se você é um nerd curioso como eu.
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