02/04/2020

ANÁLISE | "O POÇO" EM QUE NOS ENCONTRAMOS.



O que o filme Sul-coreano Parasita, ganhador do Oscar 2020, teria em comum com O poço em idioma espanhol? O que podemos dizer inicialmente é que ambos te dão um soco no estômago com gostoLigue a legenda para entender.
Fonte da imagem 1: El Heraldo

Quando Parasita de Bong Joon-Ho levou para casa a estatueta de Melhor Filme na cerimônia do Oscar 2020, ficando conhecido mundialmente como o primeiro filme de língua não inglesa a levar esse título, o mundo voltou seus olhos para a utópica vingança cinematográfica do proletariado em cima da burguesia. Aliás, Parasite não foi único filme lançado em 2019 que trouxe para as grandes telas de cinema uma temática que incomode a elite, uma vez que Bacurau  (se for vá na paz) de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles é literalmente de matar (Desculpem o trocadilho, rs). Bacurau é a reparação histórica de Canudos e nada me tira da cabeça mas... seguindo o raciocínio, o cinema em 2019 sustentou obras não só surpreendentes enquanto querendo ou não, inovadoras.


Fonte da imagem: Medium

A verdade é que Parasita não só obrigou os americanos a lerem legenda, como também transformou o olhar para filmes estrangeiros por ter quebrado as barreiras trazendo visibilidade.O streaming Netflix já apostava num cinema não americano antes,quando criou sua pasta de filmes estrangeiros  com isso chamando atenção para produções espanholas,argentinas, bollywood e outras. Junto a essas produções de diversos gêneros está O poço, mas antes vamos explicar em que situação este filme chegou.

Fonte da imagem: Cinem(ação) 

Em 2020 em pleno colapso do bloco social e em meio a uma pandemia (não é uma descrição daquele filme Contágio de 2011, embora depois falaremos disto melhor), a Netflix,o famoso streaming pago (também vamos salientar isto para mais tarde) nos lança lança o filme O poço.

Fonte da imagem: Observatório do Cinema 

Não é de hoje que filmes estrangeiros têm dominado a Netflix, uma vez que várias produções que bombam no exterior, em festivais especializados por toda a Europa, estão disponíveis no canal. O Poço chamou a atenção quando foi exibido no Festival de Toronto em 2019, chamando a atenção da Netflix, que se comprometeu em distribuir o longa-metragem. Eu cheguei até a ver alguns comentários comparando o filme dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia (novato no cargo) com o chocante A Serbian Film, uma das obras mais impactantes já lançadas nos últimos anos. Particularmente, achei um pouco exagerada devido à forma como o filme sérvio pega muito mais pesado quando se trata em deixar a gente com dor de cabeça (estilei, mesmo! talkey?). Porém, reconheço que essa comparação tem certo fundamento. 

Na história nós temos um homem considerado um idealista que opta por participar de um experimento: passar seis meses em uma prisão vertical, ganhando um certificado por participação. Lá dentro, ele testemunha situações que vão desafiar sua sanidade mental e o fazer refletir sobre o que o ser humano é capaz de fazer nas piores situações. O tal “poço” é por onde passa uma plataforma repleta de comida (o suficiente para todos), que vai descendo do nível 0 até os últimos (mais de duzentos) e os detentos vão comendo, os debaixo se alimentando dos restos que os que estão nos níveis superiores deixaram. Isso só ocorre uma vez por dia, e não demora para o protagonista perceber o que há de errado ali, passando a lutar para desafiar o sistema. Ah! E eles são movidos de pavimento em uma espécie de rodízio após um mês, podendo estar lá em cima, ou literalmente nas últimas!




Quando falo em “desafiar o sistema” não entenda uma revolução nos moldes das distopias adolescentes no cinema, uma vez que primeiramente todos os protagonistas são adultos. Quando a plataforma vai descendo, chega a um ponto em que os prisioneiros que estão nos níveis mais baixos não tenham o que comer... partindo para métodos mais bárbaros e brutais (eu ouvi “canibalismo”?). Tudo isso é mostrado numa pegada ora antropológica/filosófica, com reflexões sobre desigualdade social nas entrelinhas, permitindo que o espectador enxergue a pirâmide de estratificação social naquele lugar; ora apelando para a violência gráfica, apresentando trechos bem sanguinolentos, para nenhum fã de gore botar defeito. Porém, não pense que isso é gratuito, uma vez que a intenção é perturbar o espectador e fazer com que ele passe por uma sensação de claustrofobia ao se dar conta de que aquela amostra da sociedade retratada é a nossa!


Fonte da imagem: Cineycine


Assistir a El Hoyo nas atuais circunstâncias – a pandemia do coronavirus que estamos enfrentando – é mesmo um desafio e tanto, porém é uma experiência válida! Ele é um filme que choca, e muito! Porém, a intenção de toda aquela bizarrice é mostrar o quão bárbaro é o ser humano, e o que o homem é capaz de fazer quando está diante dos seus medos mais primitivos. Sombrio, não é?! Mas é a realidade, meu povo! Esse é um daqueles filmes feitos para boi acordar, cheio de referências políticas ou até mesmo religiosas. Têm para todos os gostos, no fim das contas – seja para quem busca um filme superficial com uma luta desesperada para a sobrevivência, ou para aqueles que buscam desviar as várias camadas dos filmes que assistem, e aqui têm várias. Dito isso, gostaria de afirmar que o final aqui vai deixar muita gente com mais perguntas do que respostas, e isso é de forma proposital. Sobram também críticas ao capitalismo e a forma como esses sistemas – na prática – costumam jogar gasolina na fogueira, sendo capazes de manipular as pessoas, que vêm seus ideais mudarem da noite para o dia. 

Fonte da imagem: Esquire


Outras interpretações sugerem que o que temos aqui talvez seja uma ilustração do trabalho de Dante Aleghieri em A Divina Comédia, onde o tal presídio seria o Inferno, e cada pavimento seria um dos ciclos desse lugar, à medida que vai se aproximando dos últimos andares - ou ciclos inferiores - a coisa vai piorando. 


Fonte da imagem: Recanto das letras

O elenco é ótimo, todos conseguindo passar a sensação de angústia, medo, desespero e desesperança para o espectador. Temos o idealista que se assemelha muito à figura de Dom Quixote (você vai se ligar logo nessa referência); um velho que se auto-intitula sábio, porém esconde um segredo perverso; uma mulher que aprendeu da forma mais violenta possível a sobreviver em um ambiente daqueles; até mesmo a visão de pessoas que vêm de fora, e estão ali por vontade própria. É o caso do protagonista e de outra moça, que aparece mais pra frente, ambos vindos voluntariamente para “experimentar algo”. A pergunta que fica é: que tipo de experiência? Seriam essas pessoas um reflexo da nossa sociedade que se mostra disposta a fazer a diferença quando na verdade têm interesses próprios?

Bem, lamentamos em lhe informar, porém a probabilidade de você passar mal assistindo a O Poço é grande, principalmente se você não é acostumado com esse tipo de produção, que busca literalmente esfregar o sangue e as tripas na sua cara para te fazer acordar! A nossa sociedade está doente e é necessário que tenhamos convicção do que é o certo a ser feito diante disso, antes que nós estejamos nos andares mais profundos do “poço”



Fonte da imagem: El Correo

OBS: Se você assistiu o filme e quer uma análise mais aprofundada dos personagens, segue o @Acríticadelas no Instagram, que lá tem uma análise mais completa.

Contudo, temos mais um filme que segue a linha dos anteriores e seu sucesso em meio a um tempo tão angustiante. Angústia essa presente em várias cenas,mais uma vez o capitalismo, quando na troca de níveis, o egoísmo humano e as condições dos menos privilegiados é colocada em pauta em citadas aqui 3 obras diferentes. Seria um grito (ACORDEM!) que o cinema está dando para seus telespectadores? Ou seria uma jogada midiática perfeita para tempos extremos? 

Infelizmente, não sabemos, folks! O que sabemos até aqui é que estão quase todos em quarentena, e a Netflix é um streaming pago, e o filme em menos de uma semana de lançamento já é um sucesso, mas será que tiveram pessoas que ficaram fora dessa?Será que dá pra falar em "sucesso", quando numa época de desigualdade social latente, uma obra lançada por um streaming pago não chega a todos? A mesma obra que faz uma crítica ao egoísmo humano é a mesma que foi lançada no circuito comercial dentro de uma plataforma paga. Ninguém te avisou, meus caros leitores, que ia ser tão difícil essa aventura que é viver, aventura para uns, em suas mansões de quarentena, porém desventuras para outros em lares temporários doados pela prefeitura.


Fonte da imagem: Cinepop 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Parafraseando blogueirxs de baixa renda e sua bela reflexão da atualidade: Não estamos no mesmo barco,estamos no mesmo mar,mas uns em iates e outros agarrados em troncos.
No mais,fiquem com o ser espiritual que vocês acreditam, lavem as mãos e se possível #fiquememcasa.



http://nerdspeaking.blogspot.com.br/search/label/Jo%C3%A3o%20F.

Espalhe a ideia, comente com os amigos! Compartilhe o que é bom!

http://nerdspeaking.blogspot.com.br/p/quem-somos_22.html

Twitter: @oNerdSpeaking
Instagram: NerdSpeaking
SoundCloud: Nerd-Speaking
Facebook: NerdSpeaking
 E-mail: nerdspeaking@gmail.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que você acha? Comenta aí!