26/03/2020

ZONA DO MEDO | MISS VIOLENCE E A CRUELDADE HUMANA



Fala, meu povo! Quem chega em Miss Violence pela primeira vez inocentemente o associa a um simples drama europeu. De fato, o drama é um dos gêneros pelos quais essa produção grega transita, mas não se engane, pois estamos diante de um suspense psicológico perverso!
Fonte da imagem 1: Radio Monte Carlo

Posso dizer com segurança que é um dos filmes mais perturbadores que já assisti, e ele consegue isso graças ao seu conteúdo extremamente chocante.

Miss violence é um filme grego de 2013 dirigido por Alexandros Avranas, e continua inédito no Brasil, com uma pegada que lembra um pouco os longas metragens de Yorgos Lanthimos, que dirigiu O Lagosta (2015) e mais recentemente o indicado ao Oscar A favorita (2018). Porém, aqui não há espaço para surrealismo ou metáforas, como é o caso d'O Lagosta, mas ainda assim discute temas importantes, ainda que representados de forma extremamente fria.

O filme começa parecendo uma festinha familiar de domingo, na comemoração do aniversário de 11 anos da garota Angelike. Porém, o espectador é surpreendido quando a menina afasta-se dos parentes e comete suicídio ao pular da varanda do apartamento. Agora, a história vai avançando e percebemos onde estamos pisando, numa casa onde reside uma família extremamente problemática.

Fonte da imagem: Canto dos Clássicos 


A família é composta por um casal que tem uma filha adulta mãe de quatro crianças (incluindo a falecida Angelike), cujos pais supostamente são desconhecidos. Quando a história vai avançando, nos sentimos como visitantes indesejados naquela casa, e acompanhamos a rotina da família, que lida com a morte da jovem de forma passiva, na qual todos os sentimentos de remorso e pena são inibidos. Não estamos diante de uma simples família adepta ao patriarcado, mas sim de um clã que esconde um segredo tenebroso.

Falar desse filme a partir de agora sem soltar spoilers é quase impossível, então decidi chutar o pau da barraca e prosseguir. Não continue lendo se não quer saber o que está por trás da máscara!


Se você deseja assistir Miss Violence, deve ficar bastante atento aos mínimos detalhes, expressos em gestos ou situações ilustrados pelos personagens. Observamos inicialmente a questão do desemprego, com o patriarca mesmo estando em idade avançada, acabando de arrumar um emprego e aparentemente mostrando dificuldades, além do silêncio mortal entre as crianças, que possuem um comportamento igualmente frio, mas marcado em parte pela inocência. Isso sem mencionar a filha adulta, que passa por situações que já vão revelando o que há debaixo dos lençóis. A partir da metade, o filme vai da água para o vinho ao expor a realidade assombrosa pela qual o espectador já imaginava desde que colocou os olhos naquela família. A expressão que resume tudo é "abuso infantil"!

Fonte da imagem: El Cadillac Negro

O tal patriarca foi capaz de violentar sua filha mais velha no passado, sendo o tal pai "desconhecido" das quatro crianças, sendo as três meninas e um menino. As garotas, quando completam 11 anos de idade, passam a ser "vendidas" por esse sujeito, sendo obrigadas a se prostituir. Como se isso não bastasse para justificar o suicídio da garota no início do filme, percebemos que o pai/avô chega ao cúmulo de se aproveitar ocasionalmente das meninas, molestando-as. E sabe o que é pior ainda? O filme não se preocupa em "julgar" tudo aquilo, seja em talvez inserir alguma situação que cesse tal absurdo, ou simplesmente promover um "rape and revenge", como fazem alguns filmes estadunidenses como Doce Vingança e Aniversário Macabro. As personagens femininas sofrem muito e a atitude da família diante disso é de conformismo. 

Fonte da imagem: Meio e Negócio

Como já deu para perceber, esse filme é muito pesado, do tipo que não deve ser exibido para menores de 18 anos em hipótese alguma. Dentro dessa narrativa que tem início apostando em um aparente drama familiar, somos surpreendidos pela mudança de tom, onde o comportamento frio dos personagens e suas atitudes intragáveis nos deixam com dor de cabeça. O pior de tudo é que o filme não é tão pesado visualmente falando, ainda que algumas cenas assustem pela forma crua, com ausência de trilha sonora e levando determinado acontecimento bizarro aparecer mera rotina daquela família. Vai por mim, as situações mais impactantes acontecem fora das câmeras, mas são indicadas pela reação das personagens. O comportamento dos personagens e a forma como as mulheres são representadas na história é o que assusta aqui!

Fonte da imagem: Cinema10

E se você pensa que as coisas vão melhorando, está muito enganado. O desconforto dura até o fim, onde destaco uma cena que não mostra quase nada, mas nos diz tudo com os olhares e gestos maliciosos dos personagens masculinos, que é de embrulhar o estômago e partir o coração. Se existe algo aqui que me chama muito a atenção é a reflexão sobre a essência má do ser humano, sendo representado como calculista e cruel, fazendo referência ao homem primitivo. Esse filme mostra a dor de ser mulher em uma sociedade composta por homens que, em alguns casos, se comportam como o patriarca ou como seus "clientes". Isso assusta pela verossimilhança!

Fonte da imagem: filmSPOT

O filme em si é ótimo, embora seja muito difícil de digerir e que essa característica seja atribuída a mera qualidade do longa-metragem . As atuações são fantásticas, sobretudo o elenco mirim, que consegue transmitir as situações cabulosas que passam, onde a inocência se transforma em repulsa e medo. A direção e o roteiro também acertam em cheio ao colocar na trama de Miss Violence poucos diálogos, e quando há essa presença, é de uma forma natural. Sendo assim, é preciso estar atento aos gestos e atitudes dos personagens no decorrer da história para entender os acontecimentos que vão tomar forma. É isso, ou o choque vai ser ainda maior quando a máscara cair! 


Fonte da imagem: Gruemonkey

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Espero ter deixado bem claro que não abri exceção para um filme de drama aqui neste quadro, embora muitos exemplares deste gênero coloquem várias produções de horror no chinelo, ao menos no que se trata de chocar o público. Este é um suspense psicológico feito para plateias adultas e que estejam procurando algo diferente, que vá além da cartilha hollywoodiana. Se não é o seu caso, mantenha distância de Miss Violence! Não assista a este filme se você já se sentiu impactado pela história que eu contei aqui, tendo o cuidado de não mostrar imagens fortes - que apesar de serem relativamente poucas, são o suficiente para ficar na sua cabeça por dias. Se ainda com meus spoilers você estiver com interesse em assistir ao filme, saiba que essas informações, que entregam a espinha dorsal do filme, não diminuem a pancada no estômago! 

Fonte da imagem: Picanha Cultural


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