09/05/2018

TECNOLOGIA | A Síndrome de Pinóquio - Mallu


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   Se você já leu pelo menos alguns livros de ficção de científica com Inteligência(s) Artificiais, já deve ter notado a síndrome do Pinóquio em algum personagem a base de bits e códigos. A história de Pinóquio já é conhecida: Um boneco de madeira que quer se transformar em um menino de verdade. Bem simples. No cinema quem parece ter começado com essa síndrome foi Steven Spielberg, com o robô David no A.I. Aliás, sendo bem objetiva, Spielberg praticamente atualizou o conto clássico do Pinóquio. 




   David (Pinóquio) é um robô, criado pelo professor Hobby (Gepeto) para ter a capacidade de amar. Um casal resolve testá-lo na ausência do seu filho de mesma idade, que sofre de uma doença rara. A trama gira em torno da incapacidade dos pais de aceitar David como um menino de verdade e da frustração que ele sente ao notar isso.

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   Claro, que os personagens da ficção científica que são Inteligências Artificiais estão cada vez mais elaborados. Entretanto, mesmo que eles se mostrem explicitamente melhores e mais habilidosos que os humanos, eles ainda sentem a necessidade de se tornarem um. Pensando no ponto de vista dos escritores de sci-fi, e com a crescente evolução da tecnologia de imitação e reprodução da natureza que adquirimos, nada mais previsível do que querer brincar de Deus.



“Você não pode definir consciência porque, consciência não existe.” Dr. Ford - WestWorld



   De 1945 a 1960 os cientistas da I.A. começam a dar ênfase à simulação da inteligência humana em situações específicas e pré-determinadas. Surge a expressão Inteligência Artificial, que alguns autores atribuem a John MacCarthy, após uma reunião de especialistas realizada em 1956 nos Estados Unidos. Lembrando que em 60, os computadores vão aos poucos se tornando populares no cinema e nas casa das pessoas. No começo dos anos 80, os japoneses lançam o projeto de fabricação dos computadores de quinta geração, ou máquinas dotadas de inteligência e que, muito embora não tenham alcançado o sucesso pretendido, popularizaram o uso da linguagem de programação Prolog e despertaram a atenção de todos para uma ciência, até então, desconsiderada popularmente como Inteligência Artificial. A partir da década de 90 intensifica-se na prática, a utilização da Inteligência Artificial semelhante à inteligência humana através da informática. 



   Apesar de parecer ligada a informática e ao mecânico, A.I pode ser qualquer coisa que aparentemente simule ser inteligente ou que seja inteligente de fato. Na mitologia grega, com a história de Pigmalião, que moldou uma figura feminina de marfim, trazida à vida por Afrodite; na história de Esparta, onde o ditador Nobis, em 200 a.C. dispunha de um robô que era seu cobrador de impostos; no século XIII quando Alberto Magno fabricou um escravo animado em tamanho natural; no mito do Golem de barro criado por um rabino do século XVII; no século XIX através do monstro criado pelo Dr. Frankenstein. Todas essas criadores se aproximando o máximo possível de nós. De certa forma, essas narrativas sempre tentaram responder a pergunta: O que é ser humano?



“Nós estamos sofrendo pelos erros que eles [humanos] cometem porque quando o fim chegar, tudo que restará seremos nós. É por isso que eles nos odeiam.” I.A - Inteligência Artificial      






   No romance de Collodi, o boneco persiste no seu propósito de ser “menino de verdade”, até que através da magia de uma fada, e pela conscientização de seus maus atos em função de grandes sofrimentos, Pinocchio tem seu pedido atendido no fim da história, e torna-se um menino “de carne e osso”, obediente e amado pelo seu pai. Embora a fada, que se assemelha à figura da mãe, pudesse transformar o boneco a qualquer momento em menino, isso ocorreu apenas quando Pinocchio amadureceu como ser. Deixando o natural egoísmo infantil de lado, ele arrisca-se e consegue salvar o pai e o gato da barriga de uma baleia. Quando deixa de pensar em si e age, conscientemente, em função do próximo, Pinocchio torna-se um ser humano.

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   Bondade e empatia se mostram como características humanas nos contos clássicos de sci-fi. Em seu livro, Andróides sonham com ovelhas elétricas?, PKD diferencia androides e humanos a partir do sentimento de empatia. Mas quando a máquina evolui ao ponto de simular esse tipo de ‘sentimento’? E quando a própria distopia retira dos humanos a capacidade de sentir compaixão pelo próximo? O que nos faz superior?


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   “A ficção científica é um reflexo da realidade, e as narrativas cujo tema trata da inteligência artificial são o termômetro para a degradação humana. O homem artificial destaca-se do homem natural, em virtudes morais. Com excessivo senso de superioridade à natureza, o homem torna-se minúsculo diante de sua própria criação. E seu avançado intelecto ofusca a moralidade já atrofiada.” (BALDESSIN, 2006)



   Um ser dotado de inteligência, dificilmente, quer ser um escravo de um ser obviamente inferior a ele. A não ser que seja criada uma superioridade falsa.  É o caso dos replicantes de Blade runner 2049.



“Nascer é ter uma alma.” K, Blader Runner 2049



   Entretanto, a personagem da Joi é que me chama atenção. Joi é uma inteligência artificial escrava, que aparece em forma de holograma para fazer companhia para seus usuários. Sua versão demo serve de isca para pessoas solitárias - principalmente homens - e elas podem personalizar sua imagem como quiser. Mas no geral, a Joi é programada para deixar seus usuários confortáveis e satisfeitos. O replicante K, tem um relacionamento bastante profundo com sua Joi. Ele é rejeitado por boa parte dos humanos - por ser replicante - e pelos replicantes - já que o trabalho dele é matar replicantes. K se identifica muito com a Joi pelo fato de nenhum dos dois serem reais (e de ambos serem escravos sem poder de mudar a própria realidade).




   Quando surge a suspeita de que K poderia ser um homem nascido, Joi o apoia em tentar descobrir a verdade. O incentivo dela sempre me intrigou. Será que a Joi estava fingindo? Será que ela era um instrumento das indústrias Wallace para descobrir o paradeiro da criança nascida? Talvez ela também tivesse a vontade de ser uma pessoa de “verdade” - em uma cena ela contrata uma prostituta para simular um toque físico com K, porque segundo ela, quer ser tão real para ele quanto ele é para ela. A libertação de K parece ser a libertação da própria Joi, que não por coincidência, se livra do seu invólucro-slide da sala de estar de K assim que ele começa sua busca pela verdade.

Wallpaper Abyss

   Uma outra I.A que atende aos desejos de seus usuários, é Poe de Altered Carbon. O Hotel Corvo é controlado por Poe, uma I.A que personifica o escritor Edgar Allan Poe. “É dele grande parte do alívio cômico, sua escolha é clara por ser um dos pais dos contos policiais, mas esconde uma maravilhosa contradição: Poe era obcecado com a morte, enquanto as pessoas no mundo de Altered Carbon são obcecadas com a vida eterna.” (Tayna Abreu, 2018)


   Além disso, Poe parece sofrer de um caso grave da Síndrome de Pinóquio, mantendo um hotel apenas para poder observar e fazer parte da vida humana. Ele é até incompreendido por outras Inteligências que não entendem como ele consegue tratar humanos de igual para igual, enquanto eles, se aproveitam de seus vícios para aumentar suas fortunas. 

Papers.CO
    Claro, que nem todas os personagens I.A tem essa necessidade de se igualar aos humanos. Samantha do filme Her, parece não conseguir manter uma relação com seres humanos devido a nossa simplicidade, por exemplo. Mesmo assim, é difícil fugir da vaidade de continuar produzindo seres extraordinários, dotados de inteligência, semelhantes ao seres humanos. Citei alguns porém, devem haver muitos outros exemplos, e sem dúvida, irão surgir cada vez mais.


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