Não sejamos ingênuos. O papel da ficção científica e mais precisamente do Cyberpunk mudou drasticamente. Iniciado na década de 40, o subgênero surge como uma antítese do que era o pensamento da ficção utópica. A visão do avanço tecnológico como único meio de alcançar a felicidade, foi se dissolvendo com a geração de escritores do pós-guerra.
A nova era da comunicação causou alguns efeitos colaterais
no modo como essas produções são recebidas pelo mercado. Além disso, a informação passa a ser um gerador direto de valor
econômico. A informação sobre o futuro, portanto, circula como mercadoria cada
vez mais importante. A ficção científica é agora um departamento de
pesquisa e desenvolvimento dentro de uma indústria de futuros que sonha com a
previsão e controle do amanhã. Se tornando mais do que uma ingênua previsão
para a futuro distante, ou como um projeto utópico para imaginar realidades
sociais alternativas. O negócio corporativo procura administrar o desconhecido
através de decisões baseadas em cenários, enquanto a sociedade civil responde
ao choque futuro através de hábitos - emparelhado pela ficção científica.
Tão
importante quanto a tecnologia, é o hábito que se atribuirá a ela. E nisso o
imaginário criado pela mídia é fundamental. Por isso a indústria mainstream
acabou abraçando o cyberpunk. Não é coincidência que algumas previsões do
gênero estejam se concretizando nos dias atuais, e que paralelamente, a indústria
tenha disseminado produções de cyberpunk esvaziadas de sua discussão principal.
Foi o que aconteceu com o live action de Ghost in the Shell (2017). Não quer
dizer que não existam boas produções, mas, elas estão cada vez menos densas e
relevantes.
O imaginário de futuro controlado por uma sistema de mercado
atinge a todos, principalmente aos segmentos da sociedade que já não eram tão
bem representados. Se o passado é contado por um olhar eurocêntrico, o futuro
certamente também vai ser. E é nesse contexto que o Afrofuturismo ganha
notoriedade. Talvez seja novo cyberpunk
da ficção científica. E talvez até o cyberpunk do próprio cyberpunk. A antítese
do monopólio branco sobre o futuro - seja ele utópico ou distópico.
Black magic is in fact, a beautiful black future. (https://goo.gl/4cGpGa) |
Em teoria, esse subgênero combina elementos de ficção
científica, realismo mágico e história africana. O termo foi cunhado por um cara
branco chamado Mark Dery, em seu ensaio de 1994, intitulado Black to the
Future. Mark se perguntava porque havia tão poucos autores negros
norte-americanos de ficção científica.
“É possível para uma comunidade cujo passado foi deliberadamente apagado e cujas energias foram posteriormente consumidas pela busca de traços legíveis de sua história, imaginar futuros possíveis?”, Dery pergunta no texto.
A falta de acesso a recursos, como uma boa educação que incentive a ciência, também restringe o afrofuturismo de se espalhar no Brasil.
“É possível para uma comunidade cujo passado foi deliberadamente apagado e cujas energias foram posteriormente consumidas pela busca de traços legíveis de sua história, imaginar futuros possíveis?”, Dery pergunta no texto.
A falta de acesso a recursos, como uma boa educação que incentive a ciência, também restringe o afrofuturismo de se espalhar no Brasil.
Mark Dery's- 'Black to the Future' (https://goo.gl/in6g4S) |
Eu sinceramente considero o termo problemático, já que faz
distinção entre ficção científica a partir da visão eurocentrista (logo, "universal") e ficção científica afrocentrada.
Histórias com tecnologia e ancestralidade africana deveriam ser consideradas
ficção, seja ela de qual subgênero for. Supor que a ficção científica escrita sob o olhar
eurocêntrico é universal e a ficção afrocentrada é uma sub gênero separado -
mesma que abordem temas relacionados comumente ao cyberpunk - é cruel e
prepotente. Ficção é ficção.
Octavia Buttler, escritora de ficção científica voltada à negritude. (https://goo.gl/nYNPEs) |
Mas, agora é tarde
demais para se livrar do termo, o melhor que podemos fazer é nos apropriar dele. Pessoas negras sempre contaram
suas histórias. E antes das pessoas brancas tentarem enquadrar nossos contos,
Octavia Buttler já seguia escrevendo sobre viagem no tempo e a diáspora
africana, enquanto que Sun Ra já lançava músicas cosmicamente psicodélicas.
Encarar o afrofuturismo como algo ‘exótico’ só me parece mais uma estratégia dos brancos em tomar para si as narrativas sobre o futuro. Aos poucos vamos tomando conta do presente, seja pelos gibis, filmes, livros ou pela música tal como a Janelle Monáe. A história aos poucos vai sendo reescrita, criando um novo imaginário acerca do destino do povo negro. Porque afinal, o tempo corre, só que dessa vez, será também em nossa direção.
Encarar o afrofuturismo como algo ‘exótico’ só me parece mais uma estratégia dos brancos em tomar para si as narrativas sobre o futuro. Aos poucos vamos tomando conta do presente, seja pelos gibis, filmes, livros ou pela música tal como a Janelle Monáe. A história aos poucos vai sendo reescrita, criando um novo imaginário acerca do destino do povo negro. Porque afinal, o tempo corre, só que dessa vez, será também em nossa direção.
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