03/01/2018

Bem-Vind@ à Internet. - Mallu


   Se você está lendo isso então você faz parte dos 53% de brasileiros que tem acesso a internet - ou os 44% da população mundial. Apesar de não parecer, a Internet é algo novo e ainda restrito. Mas, para quem tem acesso é quase impossível realizar atividades como, pagar contas, conversar com amigos, assistir filmes e séries e até mesmo trabalhar sem internet. O uso social da internet tomou proporções imensuráveis e os efeitos da rede agora afetam o mundo real. O mundo virtual é uma terra mágica que se transforma a cada ano desde de sua origem.


Antes da internet

   Vamos diferenciar um fato antes: Primeiro há a Internet – um conjunto de computadores conectados uns aos outros – e depois há a World Wide Web (www ou Ampla rede mundial) que torna ainda mais fácil partilhar informações com todos esse computadores conectados. A internet como nós a conhecemos demorou 40 anos sendo feita. Mas antes, algumas coisas importantes precisavam ser criadas. Até o início do século 19 a comunicação se dava de pessoa para pessoa ou por escrito. O telégrafo foi o primeiro aparelho a utilizar ondas de rádio ou fios elétricos para enviar mensagens. A primeira transmissão de telégrafo foi feita em 1844 entre as cidades norte-americanas de Baltimore e Washington. Apesar das falhas, isso representava uma economia de tempo gigantesca para os meios de comunicação.

   Outra descoberta importante foi a do sistema binário. Letras do alfabeto codificadas em uma sequência de dígitos binários que foi aperfeiçoada por Francis Bacon em 1605. Meio século depois, o filósofo alemão Gottfried Leibniz criou o sistema binário como o conhecemos hoje, a partir de numerais. E como a rede trabalha com códigos construídos a partir de uma sistema binário- onde cada bit representa um dígito: 0 ou 1 – sem isso seria impossível realizar a leituras das informações em rede.



   A expansão dos meios de comunicação de massa durante a segunda guerra foi bastante incisiva. O rádio e televisão eram usados como armas tanto quanto tanques e pistolas. Entretanto, a comunicação restrita entre aliados e soldados era tão importante quanto. Se você já assistiu o filme O Jogo da Imitação lançado em 2014 deve conhecer um dos principais objetivos dos primeiros “computadores”. A máquina enigma ou Lorenz era um codificador de mensagens Nazista que permitia a criação de recados criptografados transmitidos via rádio em códigos diferentes dos tradicionais Morse. E levava semanas para os inimigos decifrar os códigos que mudavam constantemente dando uma enorme vantagem aos alemães nazistas durante a guerra. No filme O jogo da Imitação mostra uma divisão especial – chamada de Government Code and Cypher School (GC&CS) - de pessoas extraordinárias que trabalhavam dia e noite tentando desvendar os códigos da Enigma, entre eles estavam Alan Turing.



 O matemático, cansado de ver seus companheiros fracassarem, constrói em 1944 o Colossus, uma máquina capaz de decodificar as mensagens em 6 horas – muito melhor do que as 6 semanas do trabalho feito manualmente. Depois que a Guerra acabou o Colossus foi desmontado e inutilizado. As equipes que trabalhavam no Colossus se espalharam pela Europa e EUA dando início a projetos como o ENIAC (Electrical Numerical Integrator and Computer) em 1955. Considerado o primeiro computador eletrônico, o ENIAC tinha um pouco de memória e transmissor de dados. Era gigante, ocupava uma sala e servia para para computar trajetórias táticas que exigissem conhecimento substancial em matemática. Não deu tempo de usá-lo durante a guerra, mas, foi muito bem utilizado para calcular órbitas de satélites e foguetes na década de 60. Inclusive a Guerra fria – aquele conflito ideológico entre EUA e União Soviética – foi essencial para dar continuidade a esses projetos.

   Com o lançamento do Sputnik em 1957, e quatro anos depois Yuri Gagari sendo primeiro homem a ir ao espaço, os EUA resolveram mudar a estratégia e criaram a Agência de Pesquisa e Projetos Avançados ou ARPA - um órgão científico e militar criado em 1957 que cuidava dos avanços tecnológicos da potência ocidental. A principal fornecedora de equipamentos de tecnologia era a IBM. A agência de defesa precisava de um método eficaz no qual os computadores pudessem “conversar” afim de resolver um problema mais rapidamente. Por causa disso, a Agência contratou J.C.R. Licklider para liderar as suas pesquisas através do "Information Processing Techniques Office'', IPTO, da Agência. Um dos sonhos de Licklider era uma rede de computadores que permitisse o trabalho cooperativo em grupos, mesmo que fossem integrados por pessoas geograficamente distantes. O projeto foi amadurecendo e adquiriu momento quando a ARPA contratou Lawrence Roberts , do Lincoln Lab do MIT, em 1967, para tornar a ideia uma realidade. Nesta mesma época Licklider, tendo saído da ARPA em 1964, assumiu a direção do Projeto MAC no MIT. Ainda assim, a comunicação era feita entre computadores militares nada parecido com a rede de computadores pessoais dos dias atuais. Muitos cientistas ao redor do mundo tentaram resolver o problema de como tornar a comunicação entre computadores mais eficiente. Entre eles o Inglês Donald Davies desenvolvedor da comutação de pacotes no laboratório de física em 1964. Em 1967 Lawrence Roberts anuncia a rede de computadores por comutação de pacotes. Os primeiros comutadores de pacotes ficaram conhecidos como IMPs (interface message processors), processadores de mensagens de interface, sendo fabricados pela empresa BBN. A partir dai explodiram uma série de pequenas “redes” como a ALOHAnet - rede de micro-ondas que conectava as ilhas do Havaí – a TELEnet - rede comercial de computadores com tecnologia baseada na da Arpanet – e a Transpac – rede francesa de comutação. Todas essas eram redes locais e tinham um problema: cada uma tinha uma linguagem própria. Por isso, a DARPA, agora responsável pela defesa dos EUA oficialmente, cria uma rede de redes baseadas numa criação de um protocolo, o TCP (transmission control protocol). Graças a ele, todas as redes falariam a mesma língua, não só para conectar PCs, como também conectar impressoras, discos, etc...



O BIG BANG da internet

   Não houve uma começo para a Internet, porém, ela já estava mais próxima da nossa rede do que antes. A criação do email em 1965 pelo engenheiro Ray Tomlinso, deu início ao que seria uma das principais novas funções da rede: emitir mensagens. Apesar do email só ter sido utilizado amplamente em 1972, ele era o principal motivo de tráfego da rede – principalmente por acadêmicos que queriam compartilhar informações sobre seus trabalhos. Nessa época algumas pequenas empresas de tecnologia foram sendo criadas como a Microsoft(1975) e a Apple(1976) - o filme Piratas do Vale do Silício retrata bem a criação dessas empresas – elas foram as principais responsáveis pelos softwares fechados voltados para o público leigo e amador. Mas ainda assim ter um computador era algo caro e considerado "coisa de nerd”. O computadores caros da Apple e os sistemas abertos da IBM – com interfaces pouco intuitivas - faziam com que esses tipo de aparelhos tivessem pouco adesão popular. Então em agosto de 1981 a IBM lança seu primeiro computador voltado para o usuário final: o IBM PC 5150. Com preço de US$ 1.565, ele era o modelo mais barato lançado pela empresa e era voltado tanto para escritórios como para uso doméstico. Com o software da Microsoft e as peças de vários desenvolvedores, o PC revolucionou a indústria e deu outro significado para computadores, agora ferramentas de trabalho e lazer. Se você fosse um internauta nos anos ou 90, iria achar um máximo discutir em fóruns online e jogar aterrissagem lunar. Computadores eram caros e a internet ainda mais cara. Modens ligados a linha telefônica que cobravam por minuto online, limitavam os internautas a classe média e alta dos países centrais.



  Em 1990 apenas 300 mil computadores estavam conectados. Em 91 é lançado o hyperlink, que conectava as várias páginas da web. Em 92 a primeira transmissão de vídeo e áudio é feita através da rede, agora com 1 milhão de computadores conectados. Empresas de comida começam a receber pedidos via internet. Rádios fornecem sistema de streaming para sua programação. Em 95 haviam cerca de 120 mil computadores conectados no Brasil, no mundo essa marca ultrapassa os 10 milhões. Nesse mesmo ano nasce o sistema de busca Yahoo e no ano seguinte surge o acesso a banda larga. Nada tão impressionante, é claro, não passava dos 56 kbps. Ainda em 96, microsoft lança o seu navegador Explorer começando a guerra dos navegadores. Em 97, a IBM lança o Deep Blue, primeiro computador a vencer um humano no xadrez. Se você acha que tudo está acelerado demais darei um último dado: em 1998 é lançado o Google.

Internet de bolhas

   Sem dúvida, o Google merece um texto específico. Esse buscador não só, revolucionou arquitetura da rede como também, a forma como as pessoas se relacionam com a Internet. Desde de seu início, o Google utilizava algoritmos que possibilitavam ao usuário ver primeiro o conteúdo mais relevante. E depois que o mundo não acabou em 2000, houve uma explosão de criação de redes sociais e serviços de mensagens instantâneas. My space(2003), Orkut(2004), ICQ(1996), MSN(1999), Twitter(2006) e claro, Facebook(2004)

  A essa altura a Google já tinha planos de dominar todas as ferramentas sociais. Com a compra de pequenas e médias empresas nos anos seguintes, o Google, possuía vários serviços como: Blogger, Adsense, Orkut, Gmail, Google Earth, Google Talk, Analytics, Youtube, etc... A lista é longa e se estende ainda mais se pensarmos nas aquisições militares, espaciais e de engenheira robótica e genética. Mas o ponto é que, as redes sociais começaram a usar o método de algoritmos do Google. Aprendendo a cada clique, exibindo opiniões semelhantes, relacionando pessoas que talvez você conheça e filtrando o conteúdo do feed ou timeline de notícias. Com um riquíssimo banco de dados sobre seus usuários, essas empresas viram uma oportunidade de lucrar em cima dessas informações. Publicidades personalizadas ou remarketing começaram a ser usados pelo Facebook em 2012, mas , já existiam muito antes na Google.



  A parceria do maior buscador do mundo e da maior rede social do mundo teve efeitos catastróficos na paciência de muitos usuários. Se você já pesquisou sobre poltronas no Google e quando entrou no Facebook tinha um anúncio de loja de poltronas, então você sabe do que eu estou falando. Hoje em dia esse tipo de personalização se estende para qualquer segmento, vai de gostos musicais até posições políticas. O algoritmo deixou de aprender com você e passou a te ensinar o que você deve ver. Além disso, as facilidades e subsídios que redes sociais como o Facebook e o Twitter possuem das empresas de telefonia móvel são gigantescas. Lembrando que ter acesso a internet ainda é custoso. Segundo dados do TIC apenas 102 milhões de brasileiros usam a internet. Desses 95% são de classe alta 82% para a classe B; 57% para a C, e 28% para a D/E. Ou seja, grande parte dos brasileiros utiliza a rede móvel dessas empresas de telefonia para terem acesso. E para os novos usuários – em sua maioria os que não tem acesso a banda larga – o Facebook é a própria internet. As facilidades para essas redes sociais causam desigualdade em relação a outras plataformas e a pluralidade do filtro da própria rede.

   É como se a internet fosse uma cidade, o Facebook um grande shopping e seus algoritmos os vastos corredores sem janelas que te prendem lá dentro fazendo com que você perca a noção do tempo que gasta. E infelizmente, eu tenho que dizer, os shoppings estão se multiplicando na web. Os softwares pertencem as mesmas empresas de aplicativos de celular, que pertencem as empresas de rede sociais, que pertencem as empresas de fibra ótica e satélites geoestacionários e assim por diante. Precisamos ser críticos em relação ao conteúdo que recebemos online, saber por quantos e quais filtros passou aquela informação. A web em formato de rede dos anos 2000 vem se desfazendo e dando lugar a uma internet de bolhas e muros privados. E se você chegou até aqui eu proponho que precisamos mudar isso.



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